Apertei um pouco sua mão e soltei-a indesejamente, por entre os dedos, um futuro jogado fora, sonhos: cada qual para seu lado, e um aperto no peito pressionou meu coração que desfez o nó na garganta.
Chorei, em soluços vendo-o de costas, planejando um futuro sozinho, jogando no lixo toda luta e destruindo prédios, casas, bairros, que demorei um tempo para concretizar.
Pelas vezes que batia a porta, deitava-me no sofá e chorava ali como criança ingênua e culpava-me pelas verdades que algumas horas escapavam de mim e destruíam a redoma que eu criava para proteger a relação difícil entre dois geniosos petulantes e teimosos.
Por hora, voltava de olhar cabisbaixo, me pegava pelos braços e com a voz quase sem saída me pedia desculpas, com o coração arrependido e com palavras doces de um galanteador de primeira.
Derretia.
Meu coração amanteigado perdoava sempre e vê-lo sorrir era o melhor presente que eu poderia receber, abraçava-o com força e intensidade toda vez que a raiva o preenchia e desejava ter o dom de acalmar ou acalentar qualquer palavra rude que soava pesada aos meus ouvidos sempre muito bem acostumados, mas nunca preparados. Aborrecia-me e volta e meia abraçava as próprias pernas no tapete do quarto, sempre muito bem decidida e manhosa apanhando por tentar entender ou ensinar coisas da vida.
No quesito conquista bati o recorde de luta, me reergui sozinha, ganhei novas esperanças e novamente o via batendo a porta, - com certeza seria do carro, se o mesmo tivesse e arrancaria sem rumo - fugindo da realidade que crio para amenizar a luta e a dor que tenho por perder sempre sentimentos concretos. De nada adianta gritar por entre os travesseiros, buscar vestígios, se ele voltará ou se o cinema aos sábados à tarde ainda está de pé ou se o pensamento ainda pousa em mim quando o mesmo deita na cama e abraça forte o travesseiro.
Quase histérica, voo pela cozinha e relembro hábitos tão bem feitos que tinha quando o mesmo fazia aquele arroz com gosto despreocupado e muito carinho. O relógio que me orientava quando parecia atrasado pelos abraços demorados - agora está parado - ou pelos planos enormes, quase impossíveis que me faziam perder a noção do tempo e da história, ouviam-se risadas altas, intensas até mesmo da rua, da esquina ou quando o ônibus passava.
Éramos felizes até mesmo quando o tempo estava para chuva, quando o tempo não estava pra nada, ou quando o filme que muito queríamos ver já havia saído dos cinemas, éramos felizes até quando a grana só dava pro ônibus ou pro subway, éramos felizes até mesmo enfrentando uma puta chuva para ir ao mercado, ou passando um puta frio, éramos despreocupados, tudo dava certo, os planos eram para ter dado certo.
As coisas deveriam dar certo, o futuro deveria ser certo, as certezas não deveriam mudar, as ideias deveriam se concretizar e a paciência nunca acabar.
Com amor: De tempos atrás.
P.s: Esse texto foi escrito há alguns meses atras, e eu só achei-o agora e resolvi postar.