quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Aptidão;


Nasci com um certificado de aptidão para ser boa demais em mais que diversas situações - e ainda não aprendi se isso é bom ou ruim. É aquele dom de perdoar por mais que o erro seja imperdoável, sabe? É aquela mania de correr atrás por mais que a culpa não seja tua, mania de tentar fazer o impossível para agradar gregos e troianos e no fundo não agradar ninguém e aí é que está o ruim de toda essa qualidade, decepcionar-se sem querer, sem ver, sem que os outros vejam que teu sorriso nem sempre significa estar feliz.

Os bons humores diários que me desculpem, mas até o mais sorridente de todos esconde mágoas e feridas, a diferença é a forma na qual você - ou eu - escondemos. Largar a xícara de café quente, abrir a janela, comprar roupa nova, estudar matemática, rasgar o vestido, cortar o dedo, errar na vida, tudo tem lá seus motivos para acontecer, assim como quando as pessoas entram na minha vida. E é nesses trancos e barrancos e afundos que eu quero achar uma explicação pro meu dom de ser assim: olho no olho, sorriso com sorriso, mão com mão, coração por coração, vitória com vitória, dor por dor, lágrima por lágrima, amor somente se for por amor. 

Aquela ânsia de curar machucados que não são meus, que eu mesma desconheço o autor, a obra e até mesmo a bibliografia para tantos cortes em corações que já passaram por mim e os deixei ir pelo simples fato de que a minha missão já estava cumprida. Quando eu deixo que vá é porque eu não espero uma volta, eu não espero um relampejar no meu espelho com alguma imagem de salvação, não espero uma pedrinha batendo na minha janela em meio a madrugada com serenatas, declarações de amor e buquês de rosas, porque cada ser, cada pedacinho de alguém tem razões para ir, seja para longe, seja para aqui do lado, desde que seja para ir e deixar pra trás acontecimentos que por mais perfeitos que foram, somente foram e hoje estão nas gavetas de guardar jóias, de guardar rabiscos e até quem sabe de não guardar nada.

E por mais que, a casca seja dura, e o coração feito de aço - ou não - essa aptidão de saber lidar com tantas batidas acaba de me adoecer quando chega no final, por salvar tantas energias, eu acabo dando pequenos pedaços de mim à todos aqueles que viraram a esquina, sentaram no muro logo na outra quadra, deixaram o fio arrebentar, cortaram o elástico e o cordão umbilical e sem satisfações fecharam as portas da amizade sem deixar bilhete, assinatura, carimbo ou muito obrigado. Fui anjo - e ainda sou - pouco serena, muito indócil, complicada, preocupada, cheia de manias e afins. Subi em milhares de pódios, levantei troféus, beijei medalhas, abri champanhes, mas também fui embora, sem querer, sem ter a intenção, sem querer machucar, dando beijinho na testa, olhando no olho e largando da fonte que me alimentava. Fui pois, não importa se eu nasci com cartazes mostrando que sou boa demais, não importa o número de pódios no qual eu subi, nem o diploma assinado e carimbado explicando minha aptidão para perdoar, enamorar, sonhar, pedir perdão, correr atrás, lutar, e determinar regrinhas e sentimentos aos meus pequenos seguidores de vida, eu fui porque no fim da jornada ninguém estará lá para me zelar, as pessoas que eu mais amo, mais quero ao lado, mais desejo, mais sonho também tem outros sonhos e linhas de raciocínio, eu sei que isso não significa que elas possam ir embora, mas é dessa forma que a razão ensinou para evitar cortes profundos. 

Mas, que venham mais cortes, que eu possa enfrentar o que for para ninguém tirar de mim essa essência, que pode me fazer sofrer mas, nada vale mais a pena do que ensinar que a vida pode ser mais fácil, que o mundo tem sentimentos, que corações de verdade não são encontrados em pontos de ônibus, que dar a mão e olhar no olho ainda vale mais que beijos e crises de ciúmes. Que estar junto de quem se ama vale muito mais do que sonhar com o que poderia ter sido e não foi, então não deixe que te digam o que é certo se o teu coração ainda não provou, aprovou ou reprovou certas crises existenciais que seu racional dá.  

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